Uma das certezas sobre o futuro do Brasil e do mundo é a continuidade e a intensificação da mais importante transformação demográfica da sociedade atual: o envelhecimento da população. Os idosos brasileiros – pessoas com 60 anos ou mais – somam quase 20 milhões, representando 10,5% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007. Além disso, em 2004 este grupo já superava o de crianças com menos de cinco anos em 17,9%. E esses números devem continuar crescendo, pois a projeção é de que, em 2050, os maiores de 65 representem 18% da população, o mesmo que os brasileiros até 14 anos, e com expectativa de vida de 81,3 anos.
Essas transformações estão sendo ocasionadas pela melhora nas condições de vida, o crescimento e avanço da ciência médica em diagnóstico, novos tratamentos e fármacos, além da queda das taxas de fecundidade. Essa conjuntura e seus desdobramentos tornam mais evidente a urgência cada vez maior de políticas públicas na área e de governos e demais setores da sociedade estarem prontos para atender às necessidades dos idosos, grupo que, além de crescer e da maior longevidade, busca e tem direito à qualidade de vida e consomem mais produtos e serviços.
Para o setor saúde os desafios são bastante grandes, já que o processo cronológico do envelhecimento predispõe ao comprometimento da saúde e ao surgimento de enfermidades crônico-degenerativas, que, se não forem detectadas precocemente, antes mesmo da terceira idade, evoluem para limitações físicas e/ou mentais. Neste contexto, a Odontologia e o cirurgião-dentista têm um importante papel na avaliação do paciente como um todo - prevenção, diagnóstico e tratamento -, ou seja, promovendo saúde, o que fica mais bem evidenciado pelos conceitos e conhecimentos científicos e clínicos da Odontogeriatria.
A especialidade foi desmembrada da Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais e, segundo resolução no Conselho Federal de Odontologia (CFO), de 2001, “se concentra no estudo dos fenômenos decorrentes do envelhecimento que também têm repercussão na boca e suas estruturas associadas, bem como a promoção da saúde, do diagnóstico, da prevenção e do tratamento de enfermidades bucais e do sistema estomatognático do idoso”.
Atenção às peculiaridades
É preciso também lembrar da ação dos medicamentos tomados para minimizar ou estabilizar estas doenças, pois provocam efeitos colaterais diversos na cavidade bucal, como lesões nos tecidos moles, hipossalivação e xerostomia, prejudicando muito a qualidade de vida do idoso.
“A somatória das enfermidades e dos fármacos já justifica plenamente a necessidade da Odontogeriatria, pois eles modificam o organismo, seja em nível sistêmico ou bucal”, explica o cirurgião-dentista José Carlos Oleiniski, professor e coordenador do curso de Especialização em Odontogeriatria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), professor desta especialidade na ABO Santa Catarina e doutor em Odontologia, com área de concentração em Odontogeriatria, pela Universidade Complutense de Madri (Espanha).
Outra especificidade da terceira idade que se deve levar em conta são as modificações sociais e psicológicas por que muitos passam, como viuvez, aposentadoria, solidão e depressão. “O atendimento odontológico a este grupo deve ser humanizado e personalizado, com paciência, carinho e atenção especial, além de conhecimento multidisciplinar gerontológico”, completa Costa. E Oleiniski finaliza: “A Odontogeriatria é um novo campo de conhecimento em que o estado de saúde geral do idoso - as alterações psicológicas, fisiológicas e patológicas decorrentes do processo de envelhecimento - é fundamental para fazer o diagnóstico odontológico correto”.
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